Importância do que é pequeno
A propósito do texto do
Evangelho segundo S. Mateus (13, 24-43), do XVI Domingo do Tempo Comum – Ano A (A força transformadora do que é pequeno, simples e humilde),
transcrevemos o seguinte texto:
«Ao cristianismo causou
muito dano, ao longo dos séculos, o triunfalismo, a sede de poder e o afã de se
impor aos seus adversários. Todavia há cristãos que anseiam por uma Igreja
poderosa que encha os templos, conquiste as ruas e imponha a sua religião a
toda a sociedade.
Temos de voltar a ler duas
pequenas parábolas em que Jesus deixa claro que a tarefa dos seus seguidores
não é construir uma religião poderosa, mas pôr-se ao serviço do projecto
humanizador do Pai (o reino de Deus), semeando pequenas “sementes” de Evangelho
e introduzindo-se na sociedade como pequeno “fermento” de vida humana.
A primeira parábola fala
de um grão de mostarda que se semeia num terreno. Que tem de especial esta
semente? Que é a mais pequena de todas, mas, quando cresce, converte-se num
arbusto maior que as restantes. O projecto do Pai tem um início muito humilde,
mas a sua força transformadora não a podemos agora nem imaginar.
A actividade de Jesus na
Galileia semeando gestos de bondade e de justiça não é nada grandiosa ou
espectacular: nem em Roma nem no Templo de Jerusalém são conscientes do que
está a suceder. O trabalho que nós, os seus segiodores, realizamos hoje é
insignificante: os centros de poder ignoram-no.
Inclusive, nós, cristãos,
podemos pensar que é inútil trabalhar por um mundo melhor: o ser humano volta
uma e outra vez a cometer os mesmos erros de sempre. Não somos capazes de
captar o lento crescimento do reino de Deus.
A segunda parábola fala de
uma mulher que introduz um pouco de fermento numa massa grande de farinha. Sem
que ninguém saiba como, o fermento vai trabalhando silenciosamente a massa até
a fermentar inteiramente.
Assim sucede com o
projecto humanizador de Deus. Uma vez que é introduzido no mundo, vai
transformando profundamente a história humana. Deus não actua impondo-se de
fora. Humaniza o mundo atraindo as consciências dos seus filhos para uma vida
mais digna, justa e fraterna.
Temos de confiar em Jesus.
O reino de Deus é sempre algo humilde e pequeno nos seus começos, mas Deus está
já a trabalhar entre nós promovendo a solidariedade, o desejo de verdade e de
justiça, o desejo de um mundo mais feliz. Temos de colaborar com Ele seguindo
Jesus.
Uma Igreja menos poderosa,
mais desprovida de privilégios, mais pobre e mais próxima dos pobres, sempre
será uma Igreja mais livre para semear sementes de evangelho, e mais humilde
para viver no meio das pessoas como fermento de uma vida mais digna e fraterna.»
(José Antonio Pagola –
teólogo espanhol)