A encruzilhada do nosso coração | Mt 7,13-14
A encruzilhada do nosso coração: «espaçoso [é] o caminho que conduz à perdição, [...] apertado é o caminho que conduz à vida» (Mt 7,13-14)
“Homem, tu que lês esta
Regra em voz alta a toda a comunidade, e tu, que escutas esta leitura, deixa de
lado quaisquer outros pensamentos que possas ter e fica sabendo que, quando te
falo, é o próprio Deus que te adverte por meu intermédio;
é o Senhor Deus, a
quem devemos ir de motu proprio e com boas ações e intenção reta, a não ser que
queiramos, por causa da nossa negligência de pecadores, comparecer mais tarde
diante dele e ser levados pela morte [...].
Vivemos o tempo que nos resta como
uma prorrogação, ao passo que a bondade de Deus espera da nossa parte
progressos diários, e quer que amanhã sejamos melhores do que hoje.
Tu, que me escutas, presta
atenção às minhas palavras [...] e assim, caminhando na diligência do teu
espírito, chegarás à encruzilhada do teu coração.
Uma vez aí chegado, [...]
deixa para trás o caminho do mal que é o da tua ignorância e considera que os
dois caminhos que para ti se abrem são as duas formas de observar os preceitos
do Senhor.
Quanto a nós, que procuramos o caminho que leva a Deus,
detenhamo-nos nesta encruzilhada do coração, examinemos esses dois caminhos,
esses dois modos de compreensão que se nos oferecem, e consideremos por qual
deles poderemos alcançar a Deus.
Se seguirmos pelo da esquerda, uma vez que o
caminho é largo, temos a temer que seja precisamente esse o caminho da
perdição; se voltarmos à direita, estaremos no bom caminho, porquanto esse é o
caminho estreito, aquele que leva os servos assíduos à presença do Senhor.
[...] Atenta, por isso, no que escutas antes de deixares a luz deste mundo,
porque só voltarás a tê-la na ressurreição.
Aí chegado, se tiveres agido bem
durante a tua vida terrena, estarás destinado à glória eterna com os santos do
Céu.”
Regra do Mestre, regra
monástica do século VI | Prólogo, 1-14
Sobre o Monaquismo ocidental…
“Herdeiro das tradições
orientais, o Monaquismo Ocidental teve um papel de extrema importância na
consolidação do ideal cristão.
Na Grécia, foi São Basílio,
bispo de Cesareia, quem desenvolveu e organizou a vida dos ascetas, tendo
escrito algumas "Regras", que ainda hoje são observadas no mundo
ortodoxo.
Aliás, a fundação de
mosteiros no Ocidente está sempre ligada à elaboração de um conjunto de normas
orientadoras na organização dos Institutos de Vida Consagrada, utilizando a
terminologia do atual Código do Direito Canónico.
Santo Agostinho de Hipona
foi outro nome deste período, escrevendo, igualmente, uma Regra que viria a
obter grande sucesso na Idade Média.
São Martinho de Tours notabilizou-se também,
através da fundação de mosteiros, entre os quais se salientam os de Ligugé e
Marmoutier.
Referência ainda para os nomes de Columba e Patrício, grandes impulsionadores
do monaquismo celta.
Primordial se torna falar de
São Bento de Núrsia - "last but not least" -, cuja Regra iria reger
durante vários séculos quase todos os mosteiros do Ocidente, tornando-se numa
grande personagem, senão maior, entre aqueles que fundaram mosteiros e
escreveram Regras, sendo justamente chamado "Pai dos Monges do Ocidente"
e designado Patrono da Europa.
Para além de se basear nas
suas próprias experiências recolhidas nos mosteiros que fundou e onde viveu
(Subiaco e Montecassino), a sua Regra, estabelecida em meados do sec. VI,
inspirou-se nas que então se praticavam: as de Pacómio, Agostinho e Cassiano.
Contudo, segundo Souther,
R.W., no seu livro A Igreja Medieval, "parece hoje indiscutível que São
Bento copiou quase literalmente grande parte da sua Regra, incluindo algumas
das passagens mais famosas acerca do ensino espiritual, da Regra de um autor anterior
conhecido como Mestre".”