«O Filho do homem tem de sofrer muito, ser rejeitado [...], ser morto e ressuscitar ao terceiro dia»

«O Filho do homem tem de sofrer muito, ser rejeitado [...], ser morto e ressuscitar ao terceiro dia»

“Um dia, Jesus orava sozinho, estando com Ele apenas os discípulos. Então perguntou-lhes: «Quem dizem as multidões que Eu sou?».

Eles responderam: «Uns, João Batista; outros, que és Elias; e outros, que és um dos antigos profetas que ressuscitou».

Disse-lhes Jesus: «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Pedro tomou a palavra e respondeu: «És o Messias de Deus».

Ele, porém, proibiu-lhes severamente de o dizerem fosse a quem fosse

e acrescentou: «O Filho do homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas; tem de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia».” (Lc 9,18-22)

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«O Filho do homem tem de sofrer muito, ser rejeitado [...], ser morto e ressuscitar ao terceiro dia»

Jesus aceitou, pela sua inteira vontade, os sofrimentos anunciados pela Escritura.

Tinha-os predito muitas vezes aos discípulos e tinha mesmo repreendido Pedro severamente por ter acolhido este anúncio com desagrado (cf Mt 16,23); por fim, tinha-lhes mostrado que seriam para salvação do mundo.

Foi por isso que Se apresentou aos que foram buscá-lo, dizendo: «Sou Eu» (Jo 18,5.8). [...]

Eles esbofetearam-no, cuspiram-Lhe em cima, ultrajaram-no, torturaram-no, flagelaram-no e, por fim, crucificaram-no.

Ele aceitou que dois ladrões, um à direita e outro à esquerda, fossem associados ao seu suplício; abaixado ao nível de assassinos e criminosos, recolheu o vinagre e o fel, frutos de uma vinha perversa; troçaram dele, atingindo-O com uma cana, perfuraram-Lhe o lado com uma lança e, por fim, depositam-no no túmulo.

E sofreu tudo isto para nos dar a salvação. [...]

Por meio dos espinhos, pôs fim aos castigos infligidos a Adão, que, devido ao seu pecado, tinha escutado a seguinte sentença: «Maldita seja a terra por tua causa! Há-de produzir para ti espinhos e cardos» (Gn 3,17-18).

Com o fel, tomou o que há de amargo e penoso na vida mortal e dolorosa dos homens; com o vinagre, aceitou a degenerescência da natureza humana e concedeu-lhe a restauração num estado melhor.

Por meio da púrpura, simbolizou a sua realeza; pela cana, sugeriu quão fraco e frágil é o poder do demónio.

Pela bofetada, proclamou a nossa libertação [como se fazia aos escravos]; suportou as violências, as correções e as chicotadas que nos eram devidas.

Foi atingido no lado, fazendo lembrar Adão. Porém, ao invés de fazer sair dele a mulher que, por meio do pecado, deu à luz a morte, fez jorrar uma fonte de vida (cf Gn 2,21; Jo 19,34), que vivifica o mundo através de uma dupla corrente: a primeira renova-nos e reveste-nos da veste da imortalidade no batistério; a segunda, após este nascimento, alimenta-nos à mesa de Deus, como se dá de mamar aos recém-nascidos.”

Teodoreto de Cyr (393-460), bispo | Tratado sobre a Encarnação, 26-27; PG 75, 1465 | Imagem

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Teodoreto de Cyr foi influente autor, teólogo e representante da interpretação crítico-histórica da escola bíblico-teológica, cujos escritos foram uma influente moderação nas disputas cristológicas do século V e contribuíram para o desenvolvimento do vocabulário teológico cristão. Ler+

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