Mensagem de D. António Augusto Azevedo para a Quaresma de 2022
Converter o coração ao Deus da paz e da misericórdia
A
Quaresma é um tempo forte de preparação para a celebração da Páscoa, o
acontecimento supremo da nossa salvação. Nestes quarenta dias deixemos ecoar no
fundo do coração a Palavra de Deus que apela à conversão. Ousemos dar lugar à
ação do Espírito Santo que abre sempre horizontes de novidade e nos fortalece
para não deixarmos vencer pelo desânimo ou pelo cansaço.
O apelo
à conversão constitui a mensagem mais forte do tempo quaresmal. É necessária a
conversão de cada cristão para que, descobrindo toda a riqueza do seu batismo,
tome consciência que os frutos produzidos são, muitas vezes, escassos. Não nos
podemos contentar com vidas cristãs meramente rotineiras, medíocres e estéreis.
Este é o tempo de cuidar da “planta frágil” que é cada pessoa e criar as condições
para dar mais fruto.
Nos
nossos dias é também imperiosa uma conversão da Igreja, de cada comunidade e
instituição. A «conversão pastoral e missionária» referida pelo Papa Francisco
na Exortação Evangelii Gaudium (nº25), exige uma mudança efetiva na vida da Igreja e de
cada um dos seus membros. Nesse sentido, a etapa da preparação do Sínodo que
decorre na diocese em plena Quaresma, apresenta-nos uma grande oportunidade de
encontro, oração, escuta e diálogo. Esta experiência proposta a todos potencia o
crescimento de uma sinodalidade concreta e pode ser geradora de uma Igreja
de estilo mais evangélico e fraterno. O percurso sinodal favorece a
transfiguração do rosto da Igreja, deixando de ser menos fechada e clerical e
passando a ser mais aberta e participada, com uma presença mais efetiva dos
leigos, nomeadamente dos jovens, das mulheres e das famílias.
A
humanidade carece também de uma profunda mudança em tantos aspetos da sua vida.
É urgente, antes de mais, uma conversão à paz, superando a lógica da força e
dos interesses e reconhecendo os direitos do outro, da sua dignidade e
liberdade. É necessária a conversão do olhar para estarmos mais atento aos que
vivem na solidão ou são descartados; a conversão do ouvido, para sabermos
escutar os pobres e os que sofrem, os que estão presos nos seus medos e
silêncios; a conversão dos corações para que se abram à bondade, à justiça e à
solidariedade.
Um sinal
expressivo do processo de conversão é o do Sacramento da Reconciliação. Através
dele recebemos toda a força recriadora da graça do perdão de Deus. Nele fazemos
a experiência pessoal e única de filhos que regressam a casa e são acolhidos de
braços abertos pelo Pai de misericórdia. Para nos dispormos a esse reencontro é
indispensável estar mais concentrados no aprofundar da consciência que leva a
reconhecer o nosso pecado e menos empenhados em atirar pedras a quem falhou.
Convido
todos os diocesanos a iniciar esta Quaresma aderindo ao convite do Papa
Francisco para que o dia 2 de março seja um Dia de Jejum e Oração pela paz. Uma
outra proposta é a do contributo penitencial, sinal habitual de partilha e
solidariedade. Este ano as ofertas destinam-se a ajudar a Igreja de São
Tomé e Príncipe e as suas necessidades pastorais e sociais.
Neste
ano jubilar em que celebramos o centenário da Diocese de Vila Real, o tempo
quaresmal convida-nos a um verdadeiro crescimento na fé, preservando a
fidelidade às nossas raízes. Para isso permaneçamos unidos a Cristo e
reforcemos os laços que nos ligam aos irmãos.
A
Quaresma é, por natureza, tempo propício à oração mais assídua, à procura de
momentos de silêncio, de espaços de leitura e meditação da Palavra de Deus, à
busca de formas efetivas de jejum, de partilha e esmola. Sigamos o apelo da
mensagem do Papa Francisco para que «Não nos cansemos de extirpar o mal da
nossa vida (…) Não nos cansemos de pedir perdão (…) Não nos cansemos de fazer o
bem através de uma operosa caridade para com o próximo. A seu tempo colheremos
se não tivermos esmorecido».
Maria,
Rainha da Paz e Padroeira da diocese, interceda por nós. Jesus, Senhor do
Calvário, nos acompanhe e nos ajude a chegar à luz pascal. Deus, Pai de
misericórdia e bondade encha das suas bênçãos todos os diocesanos.
Vila Real, 25 de fevereiro de 2022
+António Augusto de Oliveira Azevedo
Bispo de Vila Real