D. António Augusto Azevedo - Mensagem de Natal 2023
Mensagem de Natal – O encanto do rosto humano de Deus
Cada Natal está
cheio da novidade de Deus. A novidade maior é a revelação do rosto humano de
Deus que se manifesta em Jesus nascido em Belém. Por isso, sem desvalorizar as
tradições desta quadra, apontemos o olhar e abramos o coração àquele que é o
centro desta festa, Jesus, o Filho de Deus feito homem.
O Natal tem um
rosto concreto e real: o rosto de Jesus que se apresenta no presépio. O quadro
do menino acompanhado por Maria e José, rodeado por simpáticos animais,
visitado por anónimos pastores e curiosos magos, não pode deixar de nos
encantar. A simplicidade do divino presente no humano é sempre capaz de suscitar
grande atração e fascínio.
A tradição do
presépio, criada por São Francisco de Assis há oito séculos, é das que melhor
traduz o espírito do Natal. Ele ajuda-nos a reconhecer o contexto concreto que
rodeou o nascimento de Jesus. Os presépios feitos em igrejas ou em nossas
casas, em locais públicos das cidades, vilas e aldeias, alguns em estilo mais
popular, outros em linguagem mais artística, proporcionam sempre uma
experiência única de contemplação e exaltação do lado humano de Deus.
A descoberta
desse rosto humano de Deus patente em Jesus conduz-nos à urgência do
reconhecimento do divino que existe em cada rosto humano. O Natal é uma lição
incomparável de humanidade porque nos convida a olhar o rosto de cada pessoa e
reconhecer nele uma beleza única. Do rosto terno da criança ao rosto cheio de
rugas de um idoso, em cada um identificamos uma vida, uma história,
vislumbramos um mistério onde coexistem sonhos e feridas. Em cada um
transparece o caráter sagrado da vida humana. Cada rosto tem a marca de Deus.
Se cada pessoa
transporta esse sinal do divino não podemos deixar de valorizar a sua dignidade
e respeitar todos os seus direitos. Esta é a condição básica da convivência
social e o antídoto contra todas as formas de desumanidade, indiferença e ódio.
O reconhecimento do outro como pessoa e como irmão é, aliás, a base para
construir uma paz autêntica que não se limite a desejo piedoso ou palavra
inconsequente. Uma paz que se assume como valor essencial, confirmado no
compromisso em construir pontes de diálogo e em renunciar a qualquer forma de
violência, seja a dos Estados prepotentes ou a dos radicais fanáticos, seja a
violência sobre as mulheres, os idosos ou as crianças.
A mensagem do
presépio, lugar onde Deus se une à nossa humanidade, apela ainda à necessidade
de cuidar dos mais frágeis. A celebração do Natal em que cantamos a glória de
Deus que veio habitar a carne humana, impele-nos a assumir a tarefa de acolher
e cuidar da fragilidade humana em todas as suas formas. A fragilidade que se
manifesta nas crianças recém nascidas, nos doentes, especialmente da área da
saúde mental ou em estado terminal, nos idosos com mais limitações. O espírito
natalício remete-nos para a responsabilidade para com todos estes, bem como
para com aqueles que na nossa sociedade vivem em situação de maior
vulnerabilidade: os imigrantes, os refugiados, os que vivem sós, os mais
pobres.
Neste Natal
renovemos a nossa fé e confiança naquele Deus que cumpriu a promessa de vir até
nós para nos abrir caminhos novos de vida e de futuro. Ainda que no país e no
mundo não faltem motivos de perplexidade e preocupação, deixemo-nos inspirar
pelo autêntico espírito natalício que nos convida a olhar o divino e o humano
de outra forma, com um olhar de fé e esperança. Jesus nasceu e veio caminhar na
nossa história para sermos capazes de «caminhar juntos para renovar a
esperança».
A todos os diocesanos de Vila Real, a todas as comunidades, aos jovens e às famílias, aos nossos emigrantes e aos imigrantes que vão chegando, aos que estão a passar por maiores dificuldades, a todos os homens e mulheres de boa vontade, desejo um Santo Natal cheio de bênçãos de Deus.
Vila Real, 13 de dezembro de 2023
+António
Augusto de Oliveira Azevedo
Bispo de Vila Real