Mensagem para a Quaresma de 2024 – Quaresma: caminho de conversão, caminho para a liberdade
Quaresma: caminho de conversão, caminho para a liberdade
O tempo da
Quaresma é um tempo de graça para o cristão e um tempo favorável para a
humanidade. Logo no primeiro dia, em quarta-feira de cinzas, escutamos, no
texto do profeta Joel, o apelo de Deus: «Convertei-vos a Mim de todo o
coração». Estas palavras ecoam hoje como um convite a fazer um caminho de
mudança de vida, de autêntica libertação.
A decisão
pessoal de mudança parte da consciência de que há tantas coisas no nosso
quotidiano que não nos deixam ser plenamente nós próprios e realizar o bem que
está ao nosso alcance. Este primeiro passo permite-nos reconhecer aquilo a que
estamos presos, o que nos condiciona ou domina. Para iniciar um caminho novo é
preciso aceitar que se pode estar demasiado preso a coisas como o dinheiro, o
ecran, o jogo, o álcool ou outras dependências. Iniciar um caminho novo supõe
reconhecer que há ídolos que alimentam ilusões mas comprometem a nossa liberdade
e obscurecem o futuro.
Como sugere o
Papa Francisco, este tempo é convidativo para repensar estilos de vida no
sentido de «tomar pequenas e grandes opções contracorrente, capazes de
modificar a vida quotidiana das pessoas e a vida de toda uma coletividade: os
hábitos nas compras, o cuidado com a criação, a inclusão de quem não é visto ou
desprezado».
Nestes quarenta
dias caminhamos com toda a Igreja e somos guiados pela Palavra de Deus que nos
recorda, em cada domingo, as grandes etapas da história da Aliança. Dessa forma
entenderemos melhor que, apesar das nossas fragilidades e infidelidades, somos o
Povo da Nova Aliança que precisa de reforçar os laços que o unem a Deus, de um
compromisso mais efetivo com a fraternidade para com todos os seres humanos e
de uma redobrada atenção e respeito para com a criação.
O período
quaresmal coincide com uma nova fase do percurso sinodal que tem mobilizado
toda a Igreja. A próxima Assembleia Sinodal Diocesana de 25 de fevereiro
contribuirá para aprofundar o estilo sinodal que deve crescer na Igreja. A
adoção deste estilo exige uma conversão de pessoas e de estruturas: de uma
Igreja fechada, autossuficiente, cansada e rotineira para uma Igreja mais
acolhedora, aberta a todos, solidária e dialogante. Foi este o propósito do
Concílio Vaticano II e continua a ser este o sonho que o Papa Francisco nos
desafia a concretizar.
Neste período
terão lugar as eleições, momento importante de escolha coletiva que
determinará, em grande medida, o futuro do nosso país. Apelo a que todos vão
votar. Além de um direito, essa é a primeira forma de participar na vida
democrática de um país. Mas esse ato não esgota o compromisso de todos na construção
de um país livre, justo e solidário. Após 50 anos de democracia não podemos
desistir de sonhar com um país melhor mas também não podemos ficar indiferentes
a alguns sinais erosão na vida coletiva. Precisamos de uma conversão cívica, de
um renovado compromisso ético por parte de eleitos e de uma maior participação
e exigência por parte dos cidadãos eleitores.
O caminho de
conversão quaresmal, proposto a cristãos e a todos os homens e mulheres de boa
vontade, encontra sempre uma inspiração nas práticas tradicionais da Igreja:
oração, jejum e esmola. A sabedoria de muitas gerações de crentes ensina-nos
que, nas circunstâncias concretas de cada pessoa e de cada época, estas
práticas podem constituir auxílios preciosos para um caminho espiritual mais
rico e frutuoso. Em termos pessoais, familiares e comunitários, reflitamos e
tomemos uma decisão sobre: ter um tempo especial de oração; uma forma concreta
de jejuar; uma pessoa, causa ou instituição a quem fazer chegar ajuda material.
Este tempo da
quaresma é ainda momento especial para cada um se abeirar do Sacramento da
Reconciliação. A experiência da confissão dos pecados com a receção da graça do
perdão divino, constitui uma profunda e autêntica forma de libertação. A
reconciliação com Deus e com os irmãos é uma experiência incomparável que
nenhuma outra forma pode substituir.
Todos os anos o
Contributo Penitencial que resulta das ofertas das comunidades, das esmolas e
renúncias quaresmais dos fiéis, destina-se a uma causa social e solidária. Este
ano terá como destino a Cáritas Diocesana de Vila Real, para ser utilizado na
ajuda aos imigrantes, tendo em conta que os seus pedidos de ajuda têm vindo a
aumentar.
Que o Espírito Santo nos conduza e ilumine para que todos tenham uma quaresma de verdadeira conversão e libertação. Caminhemos juntos porque dessa forma se pode renovar a esperança.
Vila Real, 7 de fevereiro de 2024
+António Augusto de Oliveira Azevedo
Bispo de Vila Real