A propósito das Bem-aventuranças

Ao lermos, na Sagrada Escritura, as Bem-aventuranças, facilmente podemos verificar que nesse Seu discurso Jesus anuncia o Reino de Deus como um tempo de felicidade, bem como apresenta as disposições interiores necessárias para quem quiser acolher e viver o Reino de Deus. Elas são, realmente, o programa de vida de Jesus, o resumo da Sua Boa Nova.

E se em determinados momentos, Jesus faz exigências, para alguns terríveis, tais como: abandonar tudo e segui-Lo, o que Jesus propõe nas Bem-aventuranças não é uma renúncia, mas a felicidade total: «Felizes...!».

As Bem-aventuranças e todos os ensinamentos de Jesus que as desenvolvem podem, assim, ser consideradas para todos os cristãos, como um «programa de acção na sua vida concreta política, social, económica, familiar...»

A nona e última Bem-aventurança surge como algo verdadeiramente novo, pois passa-se da «perseguição por causa da justiça» para a «perseguição por causa de Mim», por causa de Jesus.

No Antigo Testamento, o profeta Neemias (Ne 9, 26) dizia que os israelitas, revoltados contra Deus, mataram os profetas que os advertiam para os conduzir de novo a Deus. E na Epístola aos Hebreus, retomando o Antigo Testamento, está escrito que os profetas «sofreram as provas da troça e dos chicotes e mesmo das correntes e da prisão. Foram apedrejados e serrados, tendo perecido em combates de gladiadores» (Heb 11, 36-37).

Também Jesus sabe que a condenação à morte pelo povo das testemunhas de Deus é uma constante na História da Salvação, do princípio ao fim da Bíblia (Mt 23, 35-37), como tão bem o ilustra a Parábola dos vinhateiros homicidas (Mt 21, 35-46). Jesus compreende e aceita a morte violenta que o espera: «Não se admite que um profeta pereça fora de Jerusalém.» (Lc 13, 33). E quem aceita seguir Jesus, e ser sua testemunha, deve contar com esta eventualidade: «Se a Mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós.» (Jo 15, 20).

A última bem-aventurança dá-nos a certeza de que todo o sofrimento suportado por causa de Jesus cria, com Ele, uma solidariedade que garante a salvação, porque, segundo as palavras do próprio Jesus, os perseguidos por Sua causa são declarados bem-aventurados. Esta bem-aventurança é, assim, essencialmente «cristológica», porque Jesus É o seu centro: é apenas por causa d’Ele que se sofre!

E o sofrimento suportado por causa de Cristo deve ser um motivo de alegria para todos os cristãos e proporcionar-lhes uma recompensa especial: o sofrimento por causa de Cristo estreita e fortalece mais a solidariedade com Aquele de quem depende a salvação no último dia. Ou seja, no Dia do Juízo Final, Jesus não se esquecerá dos que sofreram a perseguição por Sua causa.

S. Paulo, nas suas Cartas, aprofundou o princípio segundo o qual o sofrimento do cristão por causa de Cristo cria com este mesmo Cristo uma solidariedade que constitui garantia de felicidade eterna.

Se acreditar em Cristo é, para S. Paulo, garantia de salvação, muito mais o será o facto de se sofrer por Ele. Ao mesmo tempo, S. Paulo avança na íntima relação com Cristo, e passa do sofrer por Ele para o sofrer com Ele.

Na sua Carta a Filémon, S. Paulo fala de «comungar dos Seus sofrimentos, configurar-se à Sua morte, a fim de chegar à Ressurreição de entre os mortos» (Fil 3, 10-11), e aos Romanos escreve: «Nós, os cristãos, somos co-herdeiros de Cristo, se sofremos com Ele para sermos também glorificados com Ele.» (Rom 8, 17).

Também S. Pedro, na sua primeira Carta, escreve: «Caríssimos, não vos perturbeis com o fogo da provação, que se acendeu. Pelo contrário, alegrai-vos em ser participantes dos sofrimentos de Cristo, para que vos possais alegrar e exultar no dia em que for manifestada a Sua glória. Se sois ultrajados pelo nome de Cristo, bem-aventurados vós sois.» (I Ped 4, 12-14).

À luz do acontecimento pascal, compreende-se melhor a vantagem que há em sofrer, não apenas por causa de Cristo, mas particularmente com Cristo, partilhando os sofrimentos da Sua Cruz, pois esse é para Ele o caminho da Ressurreição. A participação nos sofrimentos de Jesus Crucificado torna-se, para todos os cristãos, causa de salvação e de alegria, pois essa é a garantia de participação na Ressurreição do Senhor Jesus.

José Pinto

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