«Mas tu vais guardar silêncio...»
«Mas tu vais guardar silêncio [...] até ao dia em que tudo isto aconteça, por não teres acreditado nas minhas palavras».
Em
nós, a voz e a palavra não são a mesma coisa, porque a voz pode fazer-se ouvir
sem conferir sentido, sem palavras, e a palavra pode ser transmitida ao
espírito sem voz, como acontece quando pensamos.
Da mesma maneira, sendo o
Salvador a Palavra [...], João
difere dele por ser a voz, por analogia com Cristo, que é a Palavra. É isso que
o próprio João responde àqueles que lhe perguntam quem é ele: «Eu sou a voz do
que brada no deserto: "Aplanai o
caminho do Senhor"» (Jo 1,23).
Talvez
seja por isso, por ter duvidado do nascimento dessa voz que viria a revelar a
Palavra de Deus, que Zacarias perdeu
a voz, recuperando-a quando nasceu esta voz que é o precursor da Palavra (cf Lc
1,64).
É que, para poder captar a palavra que a voz designa, o espírito tem de
ouvir a voz. É também por isso que João é um pouco mais velho do que Cristo;
com efeito, ouvimos a voz antes da palavra. João designa Cristo dessa maneira,
porque foi por uma voz que a Palavra Se manifestou.
E Cristo é batizado por
João, que confessa precisar de ser batizado por Ele (Mt 3,14).[...] Em suma,
quando João aponta para Cristo, é um homem que aponta para Deus, para o
Salvador incorpóreo; é uma voz que aponta para a Palavra.
Orígenes (c.
185-253), presbítero, teólogo | Comentário ao Evangelho de São João, 2, 193 ss.
Orígenes de Alexandria (185 - 254)
“Orígenes
é um dos maiores teólogos e escritores do começo do cristianismo. Com ele
iniciou-se o posterior constante diálogo entre a filosofia e a fé cristã e uma
tentativa de fusão das duas.
Ele
aceitava como verdadeiros somente os quatro evangelhos e sustentava a
necessidade do batismo, pois esse coincidia com a prática e as regras da igreja
que foi fundada sobre a tradição apostólica.
Pregava que temos somente duas
luzes para nos guiar, Cristo e a Igreja e essa última reflete fielmente os
ensinamentos recebidos de Cristo como a lua reflete os raios do sol.
O que
distingue o cristão é pertencer à igreja e fora dela não existe salvação, quem
vive à sua margem vive na escuridão.
Orígenes
defendia que os escritores da Sagrada Escritura foram inspirados por Deus e por
isso elas são obra de Deus, mas o autor inspirado conserva enquanto escreve, as
suas faculdades mentais, ele sabe o que está escrevendo e tem a liberdade de
escrever ou não.
Se as Sagradas Escrituras tem origem em Deus, elas também têm
que ter as suas características como a verdade, não podendo, portanto serem
falsas. Existem para ele três formas de interpretarmos as Sagradas Escrituras:
1° literalmente,
2° Moralmente e
3° Espiritualmente.
A interpretação espiritual
é a mais importante e a mais difícil de ser feita. A forma como lemos as
Escrituras Sagradas indica também o nosso estágio de amadurecimento espiritual
e nossa capacidade intelectual.
As
teorias de Orígenes convergem para a Trindade Divina e essa se diferencia de
todas as outras criaturas por ser plenamente imaterial, omnisciente e
essencialmente santa.
Os pecados somente podem ser perdoados através da ação
concomitante do Pai, do Filho e do Espírito Santo. As três pessoas da Trindade
são indivisíveis em presença e obra.
Orígenes reafirma a virgindade de Maria,
que foi casada com José, mas não se uniu carnalmente com ele. Coloca também em
Pedro a fundação da Igreja.” Continuar a ler na fonte