«Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração»
“Recebemos de Deus a tendência natural para fazer
o que Ele nos manda, de maneira que não podemos insurgir-nos, como se Ele nos
pedisse uma coisa extraordinária, nem orgulhar-nos, como se déssemos mais do
que aquilo que nos é dado. [...] Ao recebermos de Deus o mandamento do amor,
possuímos imediatamente, desde a nossa origem, a faculdade natural de amar. Não
foi a partir do exterior que fomos por ela enformados; e isto é evidente,
porque procuramos naturalmente aquilo que é belo [...]; sem que no-lo ensinem,
amamos aqueles que nos são aparentados, pelos laços do sangue ou de uma
qualquer aliança; enfim, de boa vontade damos provas de benevolência aos nossos
benfeitores.
Ora,
haverá coisa mais admirável do que a beleza de Deus? [...] Haverá desejo mais
ardente do que a sede provocada por Deus na alma purificada, que exclama com
emoção sincera: «Desfaleço de amor» (Cant 2, 5)? [...] Esta bondade é invisível
aos olhos do corpo, só podendo ser captada pela alma e pela inteligência;
sempre que iluminou os santos, deixou neles o aguilhão de um grande desejo, a
ponto de eles exclamarem: «Ai de mim, que vivo no exílio» (Sl 119, 5), «Quando
poderei eu chegar, para contemplar a face de Deus?» (Sl 41,3), «Desejo partir
para estar com Cristo» (Fil 1, 23) e «A minha alma tem sede do Senhor, do Deus
vivo» (Sl 41, 3). [...] Assim, pois, os homens aspiram naturalmente ao belo.
Mas aquilo que é bom é também supremamente amável; ora, Deus é bom; portanto,
se todas as coisas procuram o que é bom, todas as coisas procuram a Deus. [...]
Se
o afeto dos filhos pelos pais é um sentimento natural, que se manifesta no
instinto dos animais e na disposição dos homens para amarem sua mãe desde tenra
idade, não sejamos menos inteligentes do que as crianças, nem mais estúpidos do
que os animais: não nos apresentemos diante de Deus que nos criou como
estranhos sem amor. Mesmo que não tivéssemos compreendido, pela sua bondade,
quem Ele é, devíamos ainda assim, apenas pelo facto de termos sido criados por
Ele, amá-l'O acima de tudo, e permanecer ligados à memória do que Ele é, como
as crianças permanecem ligadas à memória de sua mãe.”
São
Basílio (c. 330-379), monge, bispo de Cesareia da Capadócia, doutor da Igreja |
Regras Maiores, Q. 2
Sobre
São Basílio Magno…
“São Basílio Magno nasceu de uma família santa que
buscava testemunhar, na própria vida e na formação dos filhos, o grande amor
por Cristo e pela Igreja. Foi assim que, ajudado pelo pai, São Basílio Magno
recebeu a primeira formação. Depois, passou por Constantinopla, chegando a
estudar em Atenas e formar-se em retórica. A essa altura, mesmo tendo um
coração bem semeado pelo Evangelho, ele começou a buscar glórias humanas. É
importante percebermos isso na história dos santos. Eles não nasceram santos e
não foram obrigados a ser santos; aceitaram este desafio, mesmo que houvesse,
em algum período, um desvio. Mas a misericórdia do Senhor sempre nos dará uma
nova change. Foi o que aconteceu com São Basílio.
Ao
conhecer o amigo São Gregório Nazianzeno, São Basílio conheceu Cristo mais
profundamente e retomou a amizade com Jesus. Ele, que já era muito culto,
direcionou todo o seu potencial para Aquele que é a verdade, o Logus, o Verbo
que se fez carne, Jesus Cristo, nosso Senhor e salvador. Retirou-se por um
tempo dali e pôde viver uma vida de muita oração e penitência. Depois, foi
inspirado a se aprofundar na vida eremítica e também na vida monástica. Visitou
o Egito, Síria, Palestina e estudou ao ponto de, com seu amigo Nazianzeno, começar
uma comunidade monástica.
Aconteceu
que, diante da realidade na qual o Arianismo – heresia que
afirmava que Jesus Cristo não é Deus – confundia muito as pessoas e ainda era apoiada
pelo imperador do Oriente chamado Valente. Enfim, que confusão doutrinal! Nesta
altura, em Cesareia, São Basílio, em 370 d.C. foi eleito bispo, sucessor de um
dos apóstolos. Homem de caridade e de testemunho, ele pôde combater e ver a
verdade vencendo o Arianismo. O imperador não colocava medo nesse homem cheio
do Espírito Santo. São Basílio também tinha muitas obras, não era apenas um
homem de palavras; cidades de caridade surgiram por meio dele.”
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