A perfeição é interior

“Naquele
tempo, disse Jesus: «Ai de vós, escribas
e fariseus hipócritas, porque pagais o dízimo da hortelã, do funcho e do
cominho, mas omitis as coisas mais importantes da lei: a justiça, a
misericórdia e a fidelidade. Devíeis praticar estas coisas, sem omitir as
outras.
Guias cegos! Coais o mosquito e engolis o
camelo.
Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas,
porque limpais o exterior do copo e do prato, que por dentro estão cheios de
rapina e intemperança.
Fariseu cego! Limpa primeiro o interior do
copo e do prato, para que também o exterior fique limpo».” (Mt
23, 23-26)
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A perfeição é interior
“Temos de
nos prevenir contra uma certa conceção errónea da perfeição, que se encontra
por vezes nas almas pouco esclarecidas, às quais acontece colocarem a perfeição
na observância puramente exterior e material das prescrições.
Ainda que
a palavra que vou utilizar seja severa, não hesito em a proferir: o referido
preconceito corre o risco de levar ao fariseísmo, o que constitui um grande
perigo. [...]
Os fariseus passavam por santos aos olhos
da multidão; e também eles se consideravam santos e faziam consistir a
perfeição na exatidão das observâncias exteriores.
A sua
fidelidade à letra e a sua meticulosidade eram tais, que os exemplos do seu
formalismo que são apresentados chegam a ser risíveis.
E, não se
contentando com tal observância escrupulosa da Lei de Moisés, o que constituía já um pesado fardo, ainda lhe
juntavam todo um catálogo de prescrições da sua lavra, a que Nosso Senhor chamou «prescrições humanas» (Mc 7,8).
E tudo
isto era observado exteriormente com tal perfeição que, nesse domínio, nada havia
a censurar-lhes: era impossível encontrar discípulos mais corretos de Moisés. [...]
Dir-me-eis:
pois não se deve observar tudo o que está prescrito? Certamente que sim. [...]
Mas o importante nessa observância é o princípio interior que a anima.
Os fariseus
observavam todas as coisas com precisão, mas faziam-no para serem vistos e
aplaudidos pela multidão; ora, esse desvio moral minava profundamente todas as
suas obras.
O mínimo
que podemos dizer sobre a observância exterior, preservada matematicamente, por
si mesma e sem nada que a enobreça é que está longe da perfeição.
A nossa
fidelidade exterior tem de ser animada pela vida interior; deve ser um
resultado, um fruto e uma manifestação dos sentimentos de fé, de confiança e de
amor que regem o nosso coração.”
Beato
Columba Marmion (1858-1923), abade | «Os instrumentos de boas obras» (texto editado)
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Dom Columba Marmion
Nasceu em
Dublim (Irlanda), no dia 1 de Abril de 1858, de pai irlandês e mãe francesa.
Três das suas irmãs consagraram-se a Deus numa Congregação religiosa chamada "Irmãs
da Misericórdia".
Ingressou
no Seminário diocesano de Dublim aos dezasseis anos, e terminou os seus estudos
de teologia no Colégio "de
Propaganda Fide", em Roma; foi ordenado sacerdote no dia 16 de Junho
de 1881. Saber+