Jesus, o fariseu e a mulher pecadora
A
Igreja não é composta por "justos", mas por pecadores, que precisam do
perdão de Deus e dos irmãos. A Liturgia de hoje (Domingo XI do Tempo Comum) apresenta-nos
um Deus de bondade e de misericórdia, que detesta o pecado, mas ama o pecador.
A
1ª Leitura apresenta a história de David, pecador, e a reação de Deus diante do
pecado do rei (2Sm 12,7-10.12).
David
cometeu adultério com a mulher de Urias. Quando soube que a mulher estava
grávida, mandou colocar Urias no lugar mais perigoso da batalha, onde ele acabou
por morrer.
O
profeta Natan denuncia o rei por esse crime e anuncia-lhe os castigos de Deus contra
ele e a sua família.
O
rei reconhece humildemente o seu erro: "Pequei contra o Senhor".
Diante
dessa atitude humilde e sincera de arrependimento, o profeta termina com uma
mensagem de esperança: "O Senhor perdoou o teu pecado. Tu não
morrerás".
Deus
condena o pecado, mas manifesta misericórdia infinita com o pecador... Dá
sempre a possibilidade de recomeçar. Na fraqueza, David teve humildade em
reconhecer o seu pecado e confiança na bondade de Deus que perdoa...
Na
2ª Leitura, S. Paulo afirma que a salvação é um dom gratuito que Deus oferece a
todos. Mas, para se ter acesso a esse dom, é preciso aderir a Jesus e
identificar-se com o Cristo do amor e da entrega (Gl 2,16.19-21).
O
Evangelho narra a história da Mulher Pecadora.
Só
Lucas narra esse episódio. É o evangelho da misericórdia (Lc 7,36-8,3).
Jesus
aceitava com alegria os convites para fazer refeições nas famílias...
Vai
à casa de Simão e a conversa estava animada... De repente aparece uma mulher
intrusa...
A mulher já era pouco valorizada… imaginemos,
agora, uma prostituta!
Ela
enfrenta a condenação dos "bem comportados". Não fala nada. Suas
lágrimas e o perfume precioso falam por ela. E o gesto tocou o coração de
Jesus.
Porque
é que ela procurou Jesus? Provavelmente já O conhecia...
O
Mestre devia tê-la impressionado profundamente. O seu olhar era diferente dos
que a olhavam com interesse para aproveitar de seu corpo e sua beleza... ou dos
que a desprezavam... ou a condenavam...
O
"muito amor" manifestado pela mulher é o resultado da atitude de
Jesus: nasce de um coração agradecido que não se sentiu excluído, nem
marginalizado, mas que nos gestos de Jesus tomou consciência da bondade e da
misericórdia de Deus.
No
episódio, encontramos três personagens:
-
Um que convida,
-
um que é convidado,
-
uma que aparece sem ser convidada.
Encontramos,
também, três olhares diferentes:
-
O olhar orgulhoso de SIMÃO, com desprezo daquela pecadora e com desconfiança
até do gesto de Cristo.
-
O olhar misericordioso de CRISTO, que valoriza o gesto de amor daquela pecadora
e censura a arrogância daquele fariseu puritano...
-
O olhar humilde da PECADORA, que reconhece seu pecado e descobre no gesto de
Jesus a misericórdia de Deus.
Pensemos
na atitude de Deus: Ele ama sempre... Ele ama a todos como filhos e a todos
convida a integrar a sua família.
É
esse Deus que temos de propor aos nossos irmãos e que temos de apresentar
àqueles que a sociedade trata como marginais.
A
figura de Simão representa aqueles que, instalados nas suas certezas e numa prática
religiosa feita de ritos e obrigações bem definidos e rigorosamente cumpridos, se
acham em dia com Deus e com os outros. Consideram-se "bons
cumpridores" de suas obrigações e desprezam os que não as cumprem.
Nas
nossas comunidades, há ainda hoje situações semelhantes?
Sabemos
que a Igreja não é formada de "justos", mas de pecadores que foram
perdoados e necessitam SEMPRE do perdão de Deus e dos irmãos.
Quantas
vezes também nós podemos nos considerar mais ou menos "perfeitos" e
desprezamos os que nos parecem pecadores, imperfeitos, marginais!... A exclusão
e a marginalização não geram vida nova; só o amor e a misericórdia interpelam o
coração e provocam uma resposta de amor.
Qual,
então, é a nossa atitude diante do pecado?
Diante
dos erros dos outros, imitamos o exemplo de Jesus, que acolhia e perdoava... ou
de Simão, que rejeitava e condenava?
Diante
dos nossos erros e pecados, imitamos o exemplo de humildade de David e da
pecadora, ou somos tentados a escondê-los, ou a justificá-los?
Fonte:
Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa (texto adaptado)