«Cumpriu-se hoje»
“Naquele
tempo, Jesus foi a Nazaré, onde Se tinha criado. Segundo o seu costume, entrou
na sinagoga a um sábado e levantou-Se para fazer a leitura.
Entregaram-Lhe
o livro do profeta Isaías e, ao abrir o livro, encontrou a passagem em que
estava escrito:
«O Espírito do Senhor está sobre mim, porque
Ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres. Enviou-me a proclamar a
redenção aos cativos e a vista aos cegos, a restituir a liberdade aos
oprimidos, a proclamar o ano da graça do Senhor».
Depois
enrolou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-Se. Estavam fixos em Jesus os
olhos de toda a sinagoga.
Começou
então a dizer-lhes: «Cumpriu-se hoje
mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir».” (Lc. 4, 16-21)
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«Cumpriu-se hoje»
«Graças Te damos, Senhor, Deus Todo-poderoso»
(Ap 11, 17). [...]
Penso,
antes de mais, na dimensão do louvor. Realmente é daqui que parte toda a
autêntica resposta de fé à revelação de Deus
em Cristo.
O cristianismo é graça, é a surpresa de
um Deus que, não satisfeito com
criar o mundo e o homem, saiu ao encontro da sua criatura e, depois de ter
falado muitas vezes e de diversos modos pelos profetas, «falou-nos agora, nestes últimos tempos, pelo Filho» (Heb 1,1-2).
Agora!
Sim, o Jubileu fez-nos sentir que passaram
dois mil anos de história sem se atenuar a pujança daquele «hoje»
referido pelos anjos, quando anunciaram aos pastores o acontecimento
maravilhoso do nascimento de Jesus
em Belém: «Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias, Senhor»
(Lc 2,11).
Passaram
dois mil anos, mas permanece viva como nunca a proclamação que Jesus fez da sua missão aos
conterrâneos na sinagoga de Nazaré,
deixando-os atónitos ao aplicar a Si próprio a profecia de Isaías: «Cumpriu-se
hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir» (Lc 4,21).
Passaram
dois mil anos, mas volta sempre, cheio de consolação para os pecadores
necessitados de misericórdia — e quem não o é? –, aquele «hoje» da salvação que, na
Cruz, abriu as portas do Reino de Deus
ao ladrão arrependido: «Em verdade te
digo: hoje estarás comigo no Paraíso» (Lc 23,43).
São João Paulo II
(1920-2005), papa | Carta apostólica «Novo
Millenio Inuente», § 4 (trad. © Libreria Editrice Vaticana) | Imagem