«Foram de terra em terra a anunciar a boa nova»
“Naquele
tempo, Jesus chamou os doze Apóstolos e deu-lhes poder e
autoridade sobre todos os demónios e para curarem todas as doenças.
Depois
enviou-os a proclamar o Reino de Deus
e a curar os enfermos.
E
disse-lhes: «Não leveis nada para o
caminho: nem cajado, nem alforge, nem pão, nem dinheiro, e não leveis duas
túnicas.
Quando entrardes em alguma casa, ficai nela
até partirdes dali.
Se alguns não vos receberem, ao sair dessa
cidade, sacudi o pó dos vossos pés, como testemunho contra eles».
Os Apóstolos partiram e foram de terra em
terra a anunciar a boa nova e a realizar curas por toda a parte.” (Lc 9,1-6)
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«Foram de terra em terra a anunciar a boa nova»
Qual é «a palavra de louvor» (Sl 65,8) que é
preciso proclamar?
Seguramente
esta: «Ele deu vida à alma» dos
crentes (v.9); porque Deus atribuiu a constância e a perseverança na profissão
da fé à pregação dos apóstolos e à confissão dos mártires, e o anúncio do Reino
dos Céus percorreu a Terra em todos os sentidos, passo a passo.
Com
efeito, «a sua mensagem espalhou-se por
toda a Terra» (Sl 18,5).
E o Espírito Santo proclama a glória desta
corrida espiritual: «Como são belos os
pés dos que anunciam a boa nova, dos que anunciam a paz» (Is 52,7).
É esta
palavra de louvor a Deus que é necessário proclamar, segundo o testemunho do
salmista: «Deu vida à minha alma e não
deixou que os meus passos vacilassem».
Com
efeito, os apóstolos não se deixaram
desviar do curso espiritual da sua pregação pelo temor das ameaças humanas, e a
firmeza dos seus passos solidamente assentes impediu-os de se afastarem do caminho
da fé. [...]
Contudo,
depois de ter dito: «Ele não deixou que
os meus passos vacilassem», o salmista acrescenta: «Ó Deus, tu provaste-nos, purificaste-nos pelo fogo, como se purifica a
prata» (v.10).
Esta
palavra, começada no singular, refere-se contudo a muitos. Pois um único é o
Espírito e uma a fé dos crentes, segundo o que está dito nos Atos dos
Apóstolos: «Os crentes tinham uma só alma
e um só coração» (At 4,32). [...]
Mas o que
significa esta comparação: foram purificados «pelo fogo, como se purifica a prata»? A prata é purificada para
dela se separar a escória, que adere à matéria ainda em bruto. [...]
É por
isso que, quando Deus põe à prova os que creem nele, não é porque ignore a sua
fé, mas porque «a perseverança produz a
virtude» como diz o apóstolo Paulo (Rom
5,4).
Deus
submete-os à prova, não para os conhecer, mas para os levar à consumação da
virtude. Assim, purificados pelo fogo e separados de qualquer ligação aos
vícios da carne, poderão resplandecer no brilho da inocência que estas provas
lhes proporcionaram.
Santo Hilário (c.
315-367), bispo de Poitiers, doutor da Igreja | Comentário ao salmo 65, §§
19-29 | Imagem
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Santo Hilário
Nascido
em uma família abastada gálico-romana e pagã, Hilário recebeu uma sólida
formação literária e filosófica.
Entretanto,
só depois da sua conversão ao cristianismo,
– como ele mesmo declarou em uma das suas obras – conseguiu entender o sentido
do destino do homem.
Com a
leitura do prólogo do Evangelho de São João, começou a dar orientação à sua
busca interior.
Já
adulto, casado e pai de uma filha, Hilário recebeu o Batismo e, entre os anos
353 e 354, foi eleito Bispo de Poitiers. Ler+