A obediência ideal: viver a obediência do Filho!
Evangelho segundo São João
“Naquele tempo,
disse Jesus aos judeus: «Meu Pai trabalha
incessantemente e Eu também trabalho em todo o tempo».
Esta afirmação
era mais um motivo para os judeus quererem dar-Lhe a morte: não só por violar o
sábado, mas também por chamar a Deus seu Pai, fazendo-Se igual a Deus.
Então Jesus
tomou a palavra e disse-lhes: «Em
verdade, em verdade vos digo: o Filho nada pode fazer por Si próprio, mas só
aquilo que viu fazer ao Pai; e tudo o que o Pai faz também o Filho o faz
igualmente.
Porque o Pai ama o Filho e Lhe manifesta
tudo quanto faz; e há-de manifestar-Lhe coisas maiores que estas, de modo que
ficareis admirados.
Assim como o Pai ressuscita os mortos e lhes
dá vida, assim o Filho dá vida a quem Ele quer.
O Pai não julga ninguém: entregou ao Filho o
poder de tudo julgar, para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem
não honra o Filho, não honra o Pai que O enviou.
Em verdade, em verdade, vos digo: quem ouve
a minha palavra e acredita naquele que Me enviou tem a vida eterna e não será
condenado, porque passou da morte à vida.
Em verdade, em verdade, vos digo:
aproxima-se a hora - e já chegou - em que os mortos ouvirão a voz do Filho de
Deus; e os que a ouvirem, viverão.
Assim como o Pai tem a vida em Si mesmo, assim também concedeu ao Filho que tivesse a vida em Si mesmo; e deu-Lhe o poder de julgar, porque é o Filho do homem.
Não vos admireis do que estou a dizer, porque
vai chegar a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz.
Os que tiverem praticado boas obras irão
para a ressurreição dos vivos e os que tiverem praticado o mal para a
ressurreição dos condenados.
Eu não posso fazer nada por Mim próprio;
julgo segundo o que oiço e o meu juízo é justo, porque não procuro fazer a
minha vontade, mas a vontade daquele que Me enviou».” (Jo 5,17-30)
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Viver a obediência do Filho
"Ó obediência,
que realizas a travessia sem dor e chegas sem perigo ao porto da salvação!
Tu conformas-te
com o Verbo, o meu Filho único; tu navegas na barca da Santa Cruz, disposta a
tudo sofrer para não te afastares da obediência ao Verbo e não infringires a
sua doutrina.
Fizeste da
Santa Cruz uma mesa, onde te alimentas de almas, inabalável no amor do próximo.
Penetrada de
humildade, não cobiças o bem de outros fora da minha vontade.
És inteiramente
reta, sem desvios; tornas leal o coração, sem fingimento algum, e generoso o
amor, isento de cálculos.
Tu és uma
aurora que anuncia a luz do amor divino!
Tu és um sol
que aquece, porque és sem cessar abrasada pela caridade!
És tu que fazes
germinar a terra, pois é por ti que todos os órgãos do corpo e todas as
faculdades da alma produzem frutos de vida, para si próprio e para o próximo.
Tu és toda
encanto, porque a cólera nunca te perturba o rosto, que mantém inalterável a
serenidade da força e a graça difundida pela paciência amável.
A tua longa
perseverança torna-te grande! Tão grande que vais da Terra ao Céu, pois é por
ti, e só por ti, que ele se abre.
Tu és uma
pérola escondida, desconhecida, pisada pelo mundo, e és a primeira a
desprezar-te a ti própria e a colocar-te sob os pés de todos.
Contudo, o teu
poder é tão elevado que ninguém pode mandar em ti: estás livre da mortal
servidão da sensualidade, que limita a tua dignidade; matando este inimigo com
o ódio e o desprezo da vontade própria, reconquistaste a tua liberdade."
Santa Catarina de Sena (1347-1380) | terceira
dominicana, doutora da Igreja, copadroeira da Europa | «Sobre a obediência»,
cap. 2, n.º 155 | Imagem