Duas formas de incenso | Orações
Perto da
igreja, havia uma oficina onde o ferreiro labutava de sol a sol dando ao fole,
deitando carvão ao fogo, batendo o ferro na bigorna.
Um dia,
conta Catulo da Paixão Cearense, autor do célebre Luar
do Sertão, um minúsculo floco da forja saindo numa nuvem escura de fumo
encontrou-se com um outro minúsculo floco de incenso que, saído da igreja,
pairava no ar, numa nuvem ténue e perfumada.
Ao ver-se
invadida por aquela conspurcada nuvem da forja do ferreiro, o minúsculo floco
de incenso disse:
- Afasta-te de mim, profano fumo. Não me
venhas conspurcar! Não manches a minha candura!
Ao que o
floco saído da forja do ferreiro respondeu:
- Eu venho do turíbulo do malho.
Se estou suja é do incenso do trabalho,
e minha negridão não me escurece.
Eu sei que sou profana e sou da forja,
mas se vens de um altar, eu venho duma forja,
a forja é também um altar,
e o trabalho é uma prece
Esta
pequena parábola vem-nos dizer que o trabalho também se pode transformar em
oração e louvor quando feito com amor.
A oração
na igreja deve transformar-se na oração de todas as horas do dia.
Não é só
nos genuflexórios do templo que se fazem belas orações.
Elas podem
fazer-se também na oficina, no escritório, pelos caminhos...
Fonte: “Almanaque Boa Nova” – 2008 | Imagem