«Ele [...] seguiu Jesus, glorificando a Deus»
O nosso Redentor, prevendo
que os discípulos ficariam perturbados com a sua Paixão, anuncia-lhes com muita
antecedência os sofrimentos da sua Paixão e a glória da sua Ressurreição (Lc
18,31-33); deste modo, vendo-O morrer como lhes anunciara, não duvidariam da
sua Ressurreição. Mas, presos ainda à nossa condição carnal, os discípulos não
podiam compreender estas palavras que anunciavam o mistério (v. 34). É então
que intervém um milagre: diante dos seus olhos, um cego recupera a visão, para
que aqueles que eram incapazes de assimilar as palavras do mistério
sobrenatural fossem sustentados na sua fé à vista de um ato sobrenatural.
Devemos ter um duplo olhar
sobre os milagres do nosso Salvador e Mestre: eles são factos, que devemos
aceitar como tais, e são signos, que remetem para outra coisa. [...] Assim, no
plano da história, não sabemos nada acerca deste cego. Mas sabemos que ele é
designado de forma obscura. Este cego é o género humano expulso, na pessoa do
seu primeiro pai, da alegria do Paraíso, que não tem qualquer conhecimento da
luz divina e que está condenado a viver nas trevas. Contudo, a presença do seu
Redentor ilumina-o; começa então a ver as alegrias da luz interior, e,
desejando-as, pode pôr os pés no caminho das boas obras.
São Gregório Magno (c.
540-604), papa, doutor da Igreja | Sermões sobre o Evangelho, n.º 2; PL 76,
1081
"S. Gregório Magno: «Servo
dos servos de Deus», inspiração para os papas de todos os tempos
O Papa São Gregório, que foi
Bispo de Roma entre 590 e 604, e que mereceu da tradição o título de
Magnus/Grande, foi um dos maiores Padres da história da Igreja, um dos quatro
Doutores do Ocidente.
Gregório foi verdadeiramente
um grande Papa e um grande Doutor da Igreja! Nasceu em Roma, por volta de 540,
de uma rica família patrícia da gens Anicia, que se distinguia não só pela
nobreza de sangue, mas também pela dedicação à fé cristã e pelos serviços
prestados à Sé Apostólica. Desta família nasceram dois Papas: Félix III (483-492),
trisavô de Gregório, e Agapito (535-536).
A casa na qual Gregório
cresceu estava situada no Clivus Scauri, circundada por solenes edifícios que
testemunhavam a grandeza da Roma antiga e a força espiritual do cristianismo.
Os exemplos dos pais Gordiano e Sílvia, ambos venerados como santos, e os das
duas tias paternas, Emiliana e Tarsília, que viveram na própria casa como
virgens consagradas num caminho partilhado de oração e de ascese,
inspiraram-lhe altos sentimentos cristãos." Continuar a ler