«Esta viúva pobre deu mais do que todos os outros»
No Evangelho de Lucas, o
Senhor ensina-nos como devemos ser misericordiosos e generosos para com os
pobres, sem nos determos a pensar na nossa pobreza; porque a generosidade não
se avalia segundo a abundância do património, mas segundo a disposição de dar.
É por isso que a palavra do Senhor deu preferência entre todos à viúva, acerca
da qual diz: «Esta viúva deu mais do que todos». No aspeto moral, o Senhor
ensina-nos que não devemos deixar de fazer o bem por vergonha da pobreza, e que
os ricos não se devem vangloriar por parecer que dão mais que os pobres. Uma
pequena moeda tirada de poucos bens prevalece sobre um tesouro tirado da
abundância; não se avalia o que é dado, mas sim o que fica. Ninguém deu mais do
que aquela que nada guardou para si. [...]
Em sentido místico, não
podemos esquecer esta mulher que põe duas moedas no tesouro. É seguramente
grande, esta mulher que mereceu ser preferida a todos no juízo de Deus! Não
terá sido ela que, pela sua fé, foi beber aos dois Testamentos, para auxílio
dos homens? Por conseguinte ninguém fez mais que ela e nenhum homem pôde
igualar a grandeza do seu donativo, dado que ela uniu a fé à misericórdia.
Também tu, quem quer que sejas, [...] não hesites em trazer para o tesouro duas
moedas cheias de fé e graça.
Santo Ambrósio (c. 340-397),
bispo de Milão, doutor da Igreja | Exortação às viúvas §§ 27ss.
Santo Ambrósio – bispo e
doutor da Igreja
"O jovem prefeito da Ligúria
e da Emília, Ambrósio, nascido em Tréveros pelo ano de 340, era ainda
catecúmeno, quando por aclamação popular subiu à sede episcopal de Milão. A
respeito da religião cristã estava ainda por aprender quase tudo, e se dedicou
sobretudo ao estudo da Sagrada Escritura com tanto empenho que logo a dominou.
Ambrósio, porém, não era intelectual puro; era sobretudo ótimo administrador da
comunidade cristã a ele confiada. Tornou-se verdadeiro pai espiritual dos
jovens imperadores Graciano, Valentiniano II e do temível Teodósio I que não
hesitou em repreender asperamente, exigindo dele penitência pública de expiação
quando, para conter uma revolta, fez massacrar a população de Tessalónica.
Ambrósio é o símbolo da Igreja renascente, após os sofridos anos de vida
escondida e das perseguições. Por meio dele a Igreja de Roma tratou sem sombra
de servilismo com o poder público.
Foram as suas qualidades
pessoais que impuseram o bispo de Milão à devota atenção de todos. A atividade
diária de Ambrósio era dirigida antes de tudo à orientação da própria
comunidade, e cumpria as suas tarefas pastorais dirigindo ao seu povo mais de
uma homilia por semana. Santo Agostinho, que foi seu assíduo ouvinte,
refere-nos em suas Confissões quão grande foi o prestígio da eloquência do
bispo de Milão e quão eficaz o tom de voz deste apóstolo da amizade." Continuar a ler na fonte