“Deus falou-nos por meio do Filho”
«Muitas vezes e de muitos modos, falou
Deus aos nossos pais, nos tempos antigos [...]. Nestes dias, que são os
últimos, Deus falou-nos por meio do Filho» (Heb 1,1-2)
Deus,
que pelo seu Verbo cria e conserva todas as coisas, apresenta aos homens,
através do mundo criado, um incessante testemunho de Si mesmo (Rom 1,20);
querendo abrir o caminho da salvação eterna, manifestou-Se logo no princípio
aos nossos primeiros pais.
[...] Sem descanso, mostrou a sua solicitude para
com todo o género humano, a fim de dar a vida eterna a todos aqueles que buscam
a salvação perseverando no bem.
No momento marcado, chamou Abraão para fazer
dele o pai de um grande povo; depois dos patriarcas, foi por Moisés e pelos
profetas que formou esse povo, para que O reconhecessem como o único Deus vivo
e verdadeiro, como Pai previdente e juiz justo, e para que esperassem o
Salvador prometido.
Foi assim que, ao longo dos séculos, Ele preparou o caminho
ao Evangelho.
«Muitas vezes e de muitos modos, falou Deus
aos nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas. Nestes dias, que
são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho» (Heb 1,1-2).
Com efeito,
Ele enviou o seu Filho, quer dizer, o Verbo eterno que «ilumina todos os
homens» (Jo 1,9), para habitar entre os homens e lhes dar a conhecer os
segredos de Deus.
Jesus Cristo, o Verbo feito carne, enviado como homem aos
homens, «transmite as palavras de Deus»
(Jo 3,34) e concluiu a obra da salvação que o Pai Lhe confiou.
Quem vê Cristo
vê também o Pai (Jo 14,9).
Por isso, Jesus Cristo, através da sua presença,
através de tudo o que mostra de Si próprio, através das suas palavras, através
das suas obras, através dos seus sinais, através dos seus milagres, mas
sobretudo através da sua morte e da sua gloriosa ressurreição de entre os
mortos e, por fim através do envio do Espírito de verdade, concluiu a
revelação, deixando-a acabada.
Concílio Vaticano II | Constituição sobre a Revelação divina, Dei Verbum, 3-4
O que é o Dei Verbum?
Dei
Verbum é uma expressão em Latim que em Português significa O Verbo de Deus.
Trata-se de uma constituição dogmática da Igreja Católica em forma de Bula
pontifícia e é um dos principais documentos do Concílio Vaticano II.
É
designada “constituição dogmática” por conter e tratar de “matéria de fé.”
De
facto, o seu conteúdo aborda o delicado e complexo problema da relação entre as
Sagradas Escrituras e a Tradição.
Esta
constituição estabeleceu a seguinte relação complexa entre a Revelação divina,
as Sagradas Escrituras (Bíblia) e a Tradição:
A
sagrada Tradição, portanto, e a Sagrada Escritura estão intimamente unidas e
compenetradas entre si.
Com efeito, derivando ambas da mesma fonte divina,
fazem como que uma coisa só e tendem ao mesmo fim.
A Sagrada Escritura é a
palavra de Deus enquanto foi escrita por inspiração do Espírito Santo; a
sagrada Tradição, por sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos
Apóstolos a palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo
aos Apóstolos, para que eles, com a luz do Espírito de verdade, a conservem, a
exponham e a difundam fielmente na sua pregação; donde resulta assim que a
Igreja não tira só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de todas as
coisas reveladas.
Por isso, ambas devem ser recebidas e veneradas com igual
espírito de piedade e reverência.
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