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«Quando despertou do sono, José fez como o Anjo do Senhor lhe ordenara»

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O clima de silêncio que acompanha tudo o que se refere à figura de José estende-se também ao trabalho de carpinteiro na casa de Nazaré. É um silêncio que desvenda de maneira especial o perfil interior desta figura. Os evangelhos falam exclusivamente daquilo que José fez; mas permitem-nos auscultar nas suas ações, envolvidas pelo silêncio, um clima de profunda contemplação. José estava quotidianamente em contacto com o mistério « escondido desde todos os séculos », que «estabeleceu a sua morada» sob o teto de sua casa (Col 1,26; Jo 1,14). [...] Uma vez que o amor paterno de José não podia deixar de influir sobre o amor filial de Jesus e, reciprocamente, o amor filial de Jesus não podia deixar de influir sobre o amor paterno de José, como chegar a conhecer as profundezas desta singularíssima relação? As almas mais sensíveis aos impulsos do amor divino veem com muita razão em José um exemplo luminoso de vida interior. Mais ainda, a aparente tensão entre a vida ativa e a vida contem

“Deus falou-nos por meio do Filho”

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« Muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais, nos tempos antigos [...]. Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho » (Heb 1,1-2) Deus, que pelo seu Verbo cria e conserva todas as coisas, apresenta aos homens, através do mundo criado, um incessante testemunho de Si mesmo (Rom 1,20); querendo abrir o caminho da salvação eterna, manifestou-Se logo no princípio aos nossos primeiros pais.  [...] Sem descanso, mostrou a sua solicitude para com todo o género humano, a fim de dar a vida eterna a todos aqueles que buscam a salvação perseverando no bem.  No momento marcado, chamou Abraão para fazer dele o pai de um grande povo; depois dos patriarcas, foi por Moisés e pelos profetas que formou esse povo, para que O reconhecessem como o único Deus vivo e verdadeiro, como Pai previdente e juiz justo, e para que esperassem o Salvador prometido.  Foi assim que, ao longo dos séculos, Ele preparou o caminho ao Evangelho. « Muitas vezes e de muitos modos, f

A verdadeira violência que se apodera do reino dos Céus

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Josué atravessou o Jordão para atacar a cidade de Jericó. Mas São Paulo esclarece-nos: « Nós não temos de lutar contra a carne e o sangue, mas contra os principados, potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares » (Ef 6,12). As coisas que foram escritas são imagens e símbolos. Porque Paulo diz noutra passagem: «Todas estas coisas lhes sucederam para nosso exemplo e foram escritas para nos servirem de advertência, a nós que chegámos aos fins dos tempos» (1Cor 10,11). Pois bem, se estas coisas foram escritas para nossa instrução, porque te demoras? Tal como Josué, partamos para a guerra, tomemos de assalto a mais vasta cidade do mundo, que é a maldade, e destruamos as muralhas orgulhosas do pecado. Olhas em teu redor, para veres que caminho tomar, que campo de batalha escolher? Vais certamente espantar-te com as minhas palavras, que no entanto são verdadeiras: limita a procura a ti mesmo. É em ti que se encontra o co

O abaixamento de Cristo

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Aprendei a humilhar-vos de verdade, e não apenas na aparência, como aqueles que se humilham de maneira fraudulenta, os hipócritas de que fala o Eclesiástico: « Abaixa-se em humildade fingida aquele cujo coração está cheio de fraude » (Ecli 19,23, Vulgata). « Pelo contrário, aquele que é verdadeiramente humilde », diz o bem-aventurado Bernardo, « não procura ver proclamada a sua humildade, mas passar por desprezível .» Nem a virgindade é agradável a Deus sem humildade, crede no que vos digo. A Virgem Maria não teria sido a Mãe de Deus se restasse nele alguma ponta de orgulho. Grande virtude é esta, pois, sem a qual todas as outras virtudes, longe de poderem existir, rebentam de orgulho. Cristo foi humilhado a ponto de, no seu tempo, nada ter sido considerado mais vil que Ele. Tão grande foi a sua humildade, tão profundo o seu abaixamento, que ninguém era capaz de julgar dele segundo a verdade, ninguém podia acreditar que fosse Deus. Ora, Nosso Senhor e Mestre disse de Si mesmo: «

«Não é só Deus que pode perdoar os pecados?»

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"Ó infeliz Adão! Que querias tu, para além da presença divina? Mas, ingrato, eis que ruminas malfeitorias: « Serei como Deus !» (cf Gn 3,5) Que orgulho intolerável! Acabas de ser feito de barro e de lodo e, na tua insolência, queres ser comparável a Deus? [...] Foi assim que o orgulho engendrou a desobediência, causa da nossa infelicidade. [...] Que humildade poderia compensar tal orgulho? Que obediência de homem poderia redimir semelhante falta? Cativo, como poderia ele libertar um cativo? Impuro, como poderia libertar um impuro? Meu Deus, irá então a vossa criatura perecer? « Ter-se-á Deus esquecido da sua compaixão, ou terá fechado com ira o seu coração? » (Sl 77,10) Oh, não! « Os desígnios que tenho acerca de vós [são] desígnios de prosperidade e não de calamidade », diz o Senhor (Jer 29,11). Apressa-Te então, Senhor: vem depressa! Vê as lágrimas dos pobres. Escuta, « chegue junto de Ti o gemido dos cativos » (Sl 79,11). Que tempo de felicidade, que dia amado e desejad

«O deserto e a terra árida vão alegrar-se, a estepe exultará e dará flores» (Is 35,1)

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« Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor ’». Irmãos, reflitamos antes de mais na graça da solidão, na beatitude do deserto, que mereceu ser consagrado ao repouso dos santos desde o começo da era da salvação. É verdade que o deserto foi santificado para nós pela «voz [que] clama no deserto», João Batista, que pregava e administrava um batismo de penitência; mas já antes dele os profetas mais santos tinham amado a solidão enquanto local favorável ao Espírito. Porém, este local recebeu uma graça de santificação incomparavelmente maior quando Jesus tomou o lugar de João (Mt 4,1). […] Ele permaneceu no deserto durante quarenta dias, como que para purificar e consagrar este local a uma vida nova; venceu o déspota que o assombrava […], não tanto por si, mas por aqueles que, no futuro, aí habitariam. […] Portanto, espera no deserto Aquele que te salvará do medo e das tempestades; quaisquer que sejam os combates que sobre ti se abatam, quaisquer que sejam as privações qu

«O Verbo era a luz verdadeira que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina» (Jo 1,9)

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Este dia que o Senhor fez (Sl 117,24) penetra em todas as coisas e tudo contém, abarcando o Céu, a Terra e os infernos! A luz que é Cristo não é detida por muros, nem anulada pelos elementos, nem ofuscada pelas trevas. A luz de Cristo é um dia sem noite, um dia sem ocaso, que resplandece em toda a parte, que em toda a parte irradia e permanece. Cristo é o dia, afirma o apóstolo Paulo: «A noite vai avançada e aproxima-se o dia» (Rom 13,12). A noite vai avançada, afirma ele, e precede o dia. Significa isto que, quando aparece a luz de Cristo, as trevas do demónio se dispersam e a noite do pecado se detém: o esplendor eterno expulsa as sombras do passado e detém o progresso dissimulado do mal. A Escritura atesta que o dia de Cristo ilumina o Céu, a Terra e os infernos. Este dia brilha na Terra: «Ele era a luz verdadeira que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina» (Jo 1,9); resplandece nos infernos: «O povo que andava nas trevas viu uma grande luz» Is 9,1); e, no Céu, o dia pe