"Insensatos! Quem fez o interior não fez também o exterior?"
“Naquele
tempo, depois de Jesus ter falado, um fariseu
convidou-O para comer em sua casa. Jesus entrou e tomou lugar à mesa.
O fariseu
admirou-se, ao ver que Ele não tinha feito as abluções antes de comer.
Disse-lhe o
Senhor: «Vós, os fariseus, limpais o
exterior do copo e do prato, mas o vosso interior está cheio de rapina e
perversidade.
Insensatos! Quem fez o interior não fez
também o exterior?
Dai antes de esmola o que está dentro e tudo
para vós ficará limpo».” (Lc 11,37-41)
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«Dai antes de esmola o que está dentro e tudo para vós ficará limpo»
“Deus encontra-Se no coração desapegado,
no silêncio da oração, no sofrimento como sacrifício voluntário, no
esvaziamento do mundo e das suas criaturas.
Deus está na
cruz; enquanto não amarmos a cruz, não O veremos, não O sentiremos. Calai-vos,
homens, que não parais de fazer barulho!
Ah, Senhor,
que feliz me sinto no meu retiro, como Te amo na minha solidão, quereria
oferecer-Te aquilo que já não tenho, pois já Te dei tudo! Pede-me Senhor.
Mas que posso
eu dar-Te? O meu corpo, já o possuis, é teu; a minha alma, Senhor, por quem
suspira ela, se não por Ti, para que Tu no fim venhas tomar posse dela?
O meu coração
está aos pés de Maria, chorando de
amor e sem mais nada querer a não ser a Ti.
A minha
vontade: por acaso desejo eu, Senhor, alguma coisa que Tu não desejes?
Diz-me,
diz-me, Senhor, qual é a tua vontade e colocarei a minha em uníssono com a tua.
Amo tudo o que
Tu me envias e me dás, seja a saúde ou a doença, seja estar aqui ou ali, ser
uma coisa ou outra; toma a minha vida, Senhor, quando quiseres.
Como é
possível não ser feliz assim?
Se o mundo e
os homens soubessem!
Mas não
saberão: estão demasiado ocupados com os seus interesses, têm o coração
demasiado cheio de coisas que não são Deus.
O mundo vive
com finalidades terrenas; os homens sonham com esta vida, em que tudo é
vaidade, e não conseguem encontrar a verdadeira felicidade, que é o amor de Deus.
Talvez
consigam chegar a compreender essa felicidade, mas [...] são muito poucos os
que renunciam a si próprios e tomam a cruz de Jesus (cf Mt 16,24), mesmo entre os religiosos.
Senhor, as
coisas que Tu permites!
A tua
sabedoria sabe o que faz. Mas segura-me com a tua mão e não permitas que os
meus pés escorreguem, pois, sem Ti, quem virá em meu socorro?
E «se o Senhor não edificar a casa» (Sl
127,1)… Ah Senhor, como Te amo! Até quando, Senhor?”
São Rafael
Arnaiz Barón (1911-1938), monge trapista espanhol | Escritos espirituais,
04/03/1938 | Imagem
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Rafael Arnaiz Barón
Nascido a 9 de
abril de 1911, em Burgos, Espanha, Rafael foi o primeiro de quatro filhos
nascidos do matrimónio de Dom Rafael Arnáiz, engenheiro, e Mercedes Barón, colunista
de jornal. Formaram uma família rica e profundamente cristã.
Aos quinze
anos, decidiu estudar desenho e pintura, sem, contudo, abandonar os seus
estudos no colégio.
Em 1929,
concluiu os estudos secundários, e, em 26 de abril de 1930, ingressou na Escola
Técnica Superior de Arquitetura de Madrid.
Foi, então,
passar as férias de verão na fazenda de seus tios Leopoldo e Maria, Duque e
Duquesa de Maqueda, nas proximidades de Ávila.
Lendo a
biografia de um trapista francês, que seu tio havia publicado, e fazendo
exercícios espirituais numa trapa aos 21 anos, ele começou a sentir-se
irresistivelmente atraído pela vida de silêncio, oração e austeridade.
Ao final das
férias, e tendo o seu tio observado a espiritualidade de Rafael, convidou-o a
conhecer o Mosteiro Trapista de Santo Isidro, em Palência.
Aquele
primeiro contato com os monges trapistas teve uma grande influência no
despertar da vocação monástica de Rafael.
O tio Leopoldo
foi, naturalmente, o primeiro a tomar conhecimento de sua decisão de entrar na
Trapa e o primeiro a alegrar-se, embora a alegria se tenha estendido a toda a
família, que também gostaria de o ver primeiro formado em Arquitetura. Ler+