A ignorância dos que não se convertem
Naquele
tempo, disse Jesus à multidão: «A quem hei-de comparar os homens desta
geração? Com quem se parecem?
Assemelham-se a crianças que, sentadas na
praça, se interpelam umas às outras, dizendo: "Tocámos flauta para vós, e
não dançastes! Entoámos lamentações, e não chorastes!"
Porque veio João Batista, que não comia nem
bebia vinho, e vós dizeis: "Tem o demónio com ele".
Veio o Filho do homem, que come e bebe, e vós
dizeis: "É um glutão e um ébrio, amigo de publicanos e pecadores".
Mas a Sabedoria é justificada por todos os
seus filhos». (Lc 7,31-35)
*****
A ignorância dos que não se convertem
“Diz o
apóstolo [Paulo] que alguns mostram
que não conhecem a Deus (cf 1Cor 15,34).
Por mim,
acrescento que não conhecem a Deus
todos os que não querem converter-se a Ele, uma vez que O rejeitam unicamente
porque fazem daquele que é só ternura um Deus solene e severo, daquele que é só
misericórdia um Deus duro e implacável, daquele que só quer ser amado um Deus
feroz e terrível.
Assim,
aliam a mentira à iniquidade (cf Sl 27,12 Vulg.), fabricando para si próprios
um ídolo em vez de verdadeiramente quererem conhecer a Deus.
Porque
temeis, homens de pouca fé (cf Mt 8,26)?
Porque
Ele não está disposto a perdoar-vos os pecados? Mas se os cravou na cruz com as
suas próprias mãos (cf Col 2,14)!
Porque
sois fracos e vulneráveis? Mas se Ele conhece o pó de que somos formados (cf Sl
103,14)!
Porque,
de estardes acostumados ao mal, tendes dificuldade em sair dele? Mas se o
Senhor salva os cativos (cf Sl 146,7)!
Que,
irado com a crueldade de crimes inumeráveis, possa suster o seu braço salvador?
Mas se onde abundou o pecado, superabundou a graça (cf Rom 5,20)!
Que a
inquietude pelo que vestir ou pelo que comer, ou por tudo o mais na vida, vos
faça tardar o desprendimento? Mas se Ele bem sabe que tendes necessidade de
tudo isso (cf Mt 6,25-32)!
Que mais
quereis? O que vos impede a salvação?
Por isso
vos digo: desconheceis a Deus e não acreditais no que ouvis de nós (cf Is
53,1). Quem dera que désseis crédito a quem já o experimentou, porque se não
acreditardes, não podereis compreender (cf Is 7,9).”
São Bernardo
(1091-1153), monge cisterciense, doutor da Igreja | Sermões sobre o Cântico dos
Cânticos, 38, 2 | Imagem