O deserto das multidões
"Ao
romper do dia, Jesus dirigiu-Se a um lugar deserto. A multidão foi à procura
dele e, tendo-O encontrado, queria retê-lo, para que não os deixasse.
Mas Jesus disse-lhes: «Tenho de ir também às outras cidades anunciar a boa nova do Reino de
Deus, porque para isto fui enviado».
E pregava
pelas sinagogas da Judeia." (Lc 4, 42-44)
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O deserto das multidões
A solidão, meu Deus,
não é estarmos sós,
é Vós estardes lá,
pois, na vossa presença, tudo se torna morto
ou se torna Vós. [...]
Seremos suficientemente crianças para pensar que toda esta gente
é suficientemente grande,
suficientemente importante,
suficientemente viva
para nos bloquear o horizonte quando olhamos para Vós?
Estar só
não é ter ultrapassado os homens, ou tê-los deixado;
estar só é saber que Vós sois grande, ó meu Deus,
que só Vós sois grande,
e que não há grande diferença entre a imensidão dos grãos de areia e a
imensidão das vidas humanas.
A diferença não afeta a solidão,
pois aquilo que torna estas vidas humanas mais visíveis
aos olhos da nossa alma, mais presentes,
é esta comunicação que têm de Vós,
é a sua prodigiosa semelhança
com o Único que é. [...]
Não censuremos o mundo,
não censuremos a vida
por nos velar a face de Deus.
Quando a encontrarmos, será esta face a velar e absorver todas as coisas. [...]
Pouco importa o lugar que ocupamos no mundo,
pouco importa que ele esteja povoado ou despovoado,
onde quer que estejamos, «Deus connosco»,
onde quer que estejamos, somos um Emanuel.
Venerável Madaleine Delbrêl
(1904-1964), missionária das pessoas da rua | «Onde quer que estejamos» |
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“Madeleine Delbrêl foi uma mística
cristã, assistente social, ensaísta e poetisa. Nasceu a 24 de Outubro de 1904
em Mussidan-Dordogne, na França.
A sua
família não praticava o catolicismo, embora tenha feito a primeira comunhão aos
12 anos, facto que anos mais tarde considerou como uma festa social. Aos 16
anos, depois de estudar Filosofia e Artes, em Paris, decidiu-se pelo ateísmo.
Poucos
anos depois, dois fatos abalaram suas convicções. Em 1923, seu noivo a deixa
para entrar para um convento e um ano depois, seu pai vem a falecer.
Em 1924,
essas duas realidades levaram Madeleine a rezar, a buscar compreensão sobre a
vida.
Buscou
inspiração em Santa Teresa de Ávila que sugeria pensar silenciosamente em Deus,
pelo menos cinco minutos por dia. “Eu
decidi rezar […] mas foi Deus que me encontrou e eu encontrei-O como o Vivente
que se pode amar como uma pessoa concreta”, registrou Madeleine anos mais
tarde.” Ler+