Quaresma: caminhada universal da Igreja
Eis-nos chegados ao
santo tempo da quaresma!
Nos primeiros
domingos do Tempo Comum, a Liturgia da Igreja propôs-nos o Evangelizador e o
Evangelho vivo – Jesus – a anunciar o Reino de Deus e convidando à conversão.
Entramos, agora, na
primeira fase do ciclo pascal que consiste em seguir a Cristo no deserto para,
como novo Povo de Deus, refazermos com Ele o êxodo «desde o Nilo ao Jordão»,
prosseguindo, depois, até ao Pentecostes da nova Aliança.
O Diretório
sobre a piedade popular e a Liturgia, de 17 de dezembro de
2001 (ler em EDREL 5649-5939), fornece-nos uma descrição sintética deste
tempo litúrgico:
«A Quaresma é um tempo que precede e dispõe para a celebração da
Páscoa. Tempo de escuta da Palavra de Deus e de conversão, de preparação e de
memória do Batismo, de reconciliação com Deus e com os irmãos, de recurso mais
frequente às «armas da penitência cristã»: a oração, o jejum e a esmola (cf. Mt 6, 1-6.16-18)» (n.º 124 = EDREL 5772).
Neste sumário estão sintetizados os principais
elementos que fazem da Quaresma um «tempo favorável» e, conforme a linguagem
das orações, um «sacramento salvífico»:
– A Quaresma “precede e
dispõe para a celebração da Páscoa”: é «caminhada», para além e
independentemente das várias dinâmicas pastorais e catequéticas assim chamadas,
com que, na melhor das hipóteses, se pretende fazer a sua pedagogia.
Mas não se esqueça a
caminhada fundamental e universal proposta no Missal, Leccionário e Rituais
(principalmente da Iniciação cristã e da Penitência).
Bom símbolo desta
caminhada são as procissões das estações quaresmais, novamente sugeridas no
novo Missal (p. 186)
– Tempo de
escuta da Palavra de Deus e de conversão: a genuína conversão
cristã exprime-se, certamente, em práticas que se tornaram tradicionais; mas é
suscitada e permanentemente alimentada pela escuta da Palavra de Deus.
Importa, por isso,
valorizar os vários Leccionários litúrgicos
(dominical, ferial e do Ofício de Leituras da LH) com a sua rica programação da
escuta eclesial da Palavra da Vida. É tão importante respeitá-los que, neste
tempo de graça, a sua interrupção pelo Leccionário
Santoral deve ser uma exceção.
Por isso, os
domingos da Quaresma têm precedência sobre todas as solenidades do Calendário e
as férias gozam de precedência em relação a todas as Memórias (que
passam a facultativas).
– Tempo de
preparação e de memória do Batismo: já o II Concílio do Vaticano
destacou a característica batismal da Quaresma e os livros litúrgicos sublinham
a importância de nela se percorrerem as principais etapas do itinerário da Iniciação
cristã.
Entretanto, todos os
batizados são convidados a renovar na Páscoa as promessas do Batismo pelo que
esta dimensão há de estar presente e ter destaque, mesmo na ausência de
catecúmenos eleitos a admitir aos sacramentos pascais.
– Tempo de reconciliação
com Deus e com os irmãos: a Quaresma é caracterizada igualmente
pelo itinerário penitencial que tem, como momento culminante, o regresso à
candura e pureza batismal pela celebração do Sacramento da Reconciliação.
Ainda que hoje tenha
desaparecido do discurso eclesiástico a urgência da «desobriga» pelo
cumprimento do preceito canónico da confissão e comunhão eucarística ao menos
uma vez por ano e pela Páscoa, contudo a Quaresma continua a ser «tempo
favorável» para os batizados celebrarem este Sacramento do Perdão.
E as agendas dos
presbíteros, ao menos neste tempo, oferecem aos fiéis com maior largueza a
ocasião de se reconciliarem.
– Tempo de
recurso mais frequente às «armas da penitência cristã»: a oração, o jejum e a esmola: a penitência só pode ser
celebrada se antes for vivida.
Terá, portanto, de
se tornar «hábito» e, finalmente, «virtude». E aqui recobram importância as
práticas tradicionais, porventura revitalizadas e inseridas num caminho de
conversão: de si, a Deus e aos irmãos.
Fonte: Voz Portucalense (texto editado) | Imagem