Sobre a formação litúrgica dos fiéis (2)
Continuo
o meu raciocínio, iniciado na edição anterior, sobre a educação/formação
litúrgica dos fiéis, particularmente no que concerne a uma participação ativa e
consciente, de todos e de cada um de nós, na Eucaristia. Comecemos, pois, pelo
princípio; e, sem intenção de ser exaustivo, levanto algumas questões para
reflexão individual.
Quando
os sinos tocam, chamando-nos para a Missa (“o
culto mais sublime que oferecemos ao Senhor”), nós fazemos a caminhada, até
à igreja, conscientes do que, em comunidade, aí vamos fazer:
- celebrar
a nossa fé em Jesus Cristo;
- louvar,
agradecer e adorar a Deus;
- pedir
perdão pelas nossas contínuas falhas para com Deus e para com os irmãos;
- ouvir
a Palavra do Senhor, sem esquecer de a levar para a vida quotidiana;
- fazer
memória da Paixão do Senhor e celebrar o seu Mistério Pascal?
Ou
vamos, essencialmente, para nos reencontrarmos e convivermos, durante algum
tempo, com os amigos?
Antes
de entrarmos na igreja, desligámos o telemóvel? Depois de passarmos a porta
de entrada, o que fazemos: ajoelhamo-nos, benzemo-nos e preparamo-nos
interiormente para a celebração em que vamos participar?
Ou
vamos visitar e rezar a todas as imagens dos santos colocados, ou não, nos
altares laterais, e passamos rapidamente, sem nos deter, junto ao sacrário?
Ou
continuamos, alegremente, a nossa conversa iniciada na rua, mesmo depois de já ter
começado o cântico de entrada?
Escreveu
Romano Guardini, em “Sinais Sagrados”, recentemente reeditado (2ª ed.,
Set2017) pelo Secretariado Nacional de Liturgia, sobre o acto de
nos ajoelharmos:
“Quando dobrares o joelho, não o faças apressadamente e de forma descuidada. Dá alma ao teu acto! E que a alma do teu ajoelhar consista em inclinar também o coração diante de Deus, em profunda reverência. Quando entrares ou saíres da igreja ou passares diante do altar, dobra o joelho profunda e lentamente e que todo o teu coração acompanhe este flectir. Isso há-de significar: «Meu Deus altíssimo!...» Isto sim que é humildade e verdade, e fará sempre bem à tua alma.” E sobre o acto de nos benzermos: “Quando fizeres o sinal da cruz, fá-lo bem feito. Não seja um gesto acanhado e feito à pressa, cujo significado ninguém sabe interpretar. Mas uma cruz verdadeira, lenta e ampla, da testa ao peito, dum ombro ao outro. Sentes como ela te envolve todo?”
Concluída
a oração colecta (a oração do presidente da celebração que
recolhe as orações de todos os que estão a celebrar a Missa, e que,
habitualmente, é dirigida a Deus Pai, por Cristo, no Espírito Santo),
sentamo-nos de forma adequada e predispostos a escutar a Palavra de Deus?
Ou
sentamo-nos, displicentemente, de perna cruzada, como quem está numa mesa de
café ou num sofá em casa, e sempre curiosos com o que se passa em qualquer
local da igreja?
Iniciada
a Liturgia da Palavra, estamos atentos a escutar o que Deus nos quer dizer
naquele momento, e que pode dar um sentido totalmente novo ao que nos acontece
no dia-a-dia? Ou aproveitamos para comentar tudo e mais alguma coisa, com
o vizinho do lado?
Quando
toda a assembleia recita o Credo, fazemo-lo calmamente, pensando e
acreditando nas palavras que proferimos?
“Creio
em Deus, Pai… Creio em Jesus Cristo… Creio no Espírito Santo… Creio na Igreja…
Professo um só Baptismo… Creio na vida eterna…”. Ou não?
(…)
José Pinto
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